Aprendi que era queer por meio de revistas de roupa íntima e lascívia. Aprendi que era queer a partir do cheiro de lavanda que exalava da tela com os caracteres tailandeses. Aprendi que era queer por meio de gente estranha, que gostava de coisas estranhas e se definia com palavras estranhas.
Me diz, figura engravatada, você me acha suja? Me acha confuso demais? Eu estou impedindo você de passar pelos portões brancos perolados? Eu estou impedindo você de agradar, de pertencer?
Queria dizer que sinto muito, mas eu não sinto. Queria dizer que me importo, mas eu não me importo. Queria dizer algo que não soasse tão abrasivo, mas sou incapaz de fingir, de atuar nesse papel.
Sabe esse lugar de blasfêmia e heresia? É onde eu resido, onde faço a minha cama. Onde eu cultivo minha transgressão, onde eu rego a minha inconformidade. Minha transgeneridade esquisita, minha sexualidade promíscua, minha arromanticidade cínica.
Para quê fingir normalidade? De que isso me serve? Vai saciar a minha fome? Vai resolver todos os meus problemas?
Não, eu prefiro continuar a caminhar no pecado. Vejo sua estrada de tijolos amarelos e inferno, ela parece tão chata. Tão branca. Tão cristã. Tão exclusiva com suas panelinhas e suas roupinhas comportadas.
O meu queer não é palatável. O meu queer não é homogêneo. O meu queer é história, é essência, é contra censura. É uma ode comunista. Uma canção de amor anarquista, que não se rende ao que é “adequado”, que não se entrega ao “aceitável”.
Me adequar, para quê? Para ter alguns minutos preciosos no paraíso? Que ingenuidade. Quando eu assistir o fogo queimar as estátuas de marfim acima do mundo, me sentirei no paraíso. Quando eu ver o seu normal ser jogado no meio do caos, estarei brindando com o diabo.
Me diz, figura engravatada, acha que estou sendo queer errado?
Bem, eu não disse que queria ser respeitável.
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