As Eleições Como Bonança
Written by SAWTOOTH
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December 28, 2022
Muitos ainda batem na tecla da eleição como fim alcançado, mas desde o princípio está claro que é parte do processo.
- Logo depois do fim do segundo turno, a extrema-direita encarnada no que chamam bolsonarismo iniciou algo que já estava anunciado: nossa versão do capitólio, liderada pela união de todo o espectro do neofascismo que se fortaleceu nesses quatro anos de governo Bolsonaro.
- O ânimo dos seguidores de Bolsonaro, essa seita fascista que usa todos os elementos de Q-Anon para orquestrar as massas, já está inflamado e eles esperavam o fim das eleições pra pôr em prática os sonhos pervertidos de um golpe de estado.
- Parte da PRF parece estar reduzida à polícia política. Fez vistas grossas aos que tentam desestabilizar o processo eleitoral, um dia após ter reprimido eleitores, principalmente no nordeste do país.
- Nesse pós-eleições, enquanto Bolsonaro seguia trancado chorando no chuveiro, e os seus seguidores fanáticos por aí desembestados sonhando com um capitólio de final feliz, ninguém sabia onde o presidente e os outros membros da família. Foi-se o tempo quando a imprensa descobria até tapioca comprada com o cartão corporativo, hoje não encontram sequer um homem com uma cabeça do tamanho de um filtro de barro.
- As instituições funcionam tão bem que foi preciso que Gaviões da Fiel, Galoucura e Máfia Azul começassem a desfazer os bloqueios golpistas. Uma coisa que é, ao mesmo tempo, heroica e trágica porque deveríamos ter organizações públicas fazendo isso.
- A eleição foi só um passo dentro de um processo. Online, as redes bolsonaristas já se reorganizam. A reorganização usa um método interessante de se ver: é sempre hiper-entrópico, caótico, e na base da tentativa e erro vão testando narrativas até que uma cole. E, por mais contra intuitivo que pareça, até essas eleições eles avançaram bem mais que os seus opositores.
- Mas as redes pró-Lula (ao menos no telegram), agora variam entre a zoação e o medo de debater coisas espinhosas. Por exemplo, que o bolsonarismo não acabou. Parece que tem uma parte que se apaixonou em viver contra as cordas ao invés de entender o que acontece e se antecipar ao movimento da extrema-direita.
- Mas, no geral, a esquerda é tipo uma anomalia usando redes sociais. Durante o governo Bolsonaro, surgiram uma dezena de influenciadores. Todos muito inteligentes, mas inteligência acadêmica não é o suficiente, e verdade seja dita: se não fossem André Janones e Felipe Neto, havia um risco de tomar uma lavada do Bolsonaro com sua máquina de difamação.
- Existe uma esquerda deslumbrada pelo seu intelectualismo, mas tem um alcance e impacto bem medíocre (no sentido “ditar o debate”). Temos que reconhecer que Janones aguentou uma chuva de haters porque ele não era “esquerda puro-sangue”. Sorte que Janones já parece estar acostumado com essas tranqueiras e o potencial de mobilização ficou mais que claro durante esse processo. André Janones e Felipe Neto demonstraram que a meia dúzia de pangarés que orquestram as redes bolsonaristas perdem a linha com o mínimo de estratégia de redes.
- O bolsonarismo não surgiu da noite pro dia e vai seguir (como segue o trumpismo nos submundos de fórum de extrema-direita e redes sociais). Já passou da hora de assumir posições claras e simples na comunicação, os neofascistas tiram vantagem comunicando-se desta forma, não citando milhões de leis ou referências bibliográficas. Se a esquerda não quer voltar para as cordas, deve agir agora e ser menos estúpida com quem realmente sabe como fazer.
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