As Eleições Como Bonança

Muitos ainda batem na tecla da eleição como fim alcançado, mas desde o princípio está claro que é parte do processo.

  1. Logo depois do fim do segundo turno, a extrema-direita encarnada no que chamam bolsonarismo iniciou algo que já estava anunciado: nossa versão do capitólio, liderada pela união de todo o espectro do neofascismo que se fortaleceu nesses quatro anos de governo Bolsonaro.


  1. O ânimo dos seguidores de Bolsonaro, essa seita fascista que usa todos os elementos de Q-Anon para orquestrar as massas, já está inflamado e eles esperavam o fim das eleições pra pôr em prática os sonhos pervertidos de um golpe de estado.


  1. Parte da PRF parece estar reduzida à polícia política. Fez vistas grossas aos que tentam desestabilizar o processo eleitoral, um dia após ter reprimido eleitores, principalmente no nordeste do país.


  1. Nesse pós-eleições, enquanto Bolsonaro seguia trancado chorando no chuveiro, e os seus seguidores fanáticos por aí desembestados sonhando com um capitólio de final feliz, ninguém sabia onde o presidente e os outros membros da família. Foi-se o tempo quando a imprensa descobria até tapioca comprada com o cartão corporativo, hoje não encontram sequer um homem com uma cabeça do tamanho de um filtro de barro.


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  1. As instituições funcionam tão bem que foi preciso que Gaviões da Fiel, Galoucura e Máfia Azul começassem a desfazer os bloqueios golpistas. Uma coisa que é, ao mesmo tempo, heroica e trágica porque deveríamos ter organizações públicas fazendo isso.


  1. A eleição foi só um passo dentro de um processo. Online, as redes bolsonaristas já se reorganizam. A reorganização usa um método interessante de se ver: é sempre hiper-entrópico, caótico, e na base da tentativa e erro vão testando narrativas até que uma cole. E, por mais contra intuitivo que pareça, até essas eleições eles avançaram bem mais que os seus opositores.


  1. Mas as redes pró-Lula (ao menos no telegram), agora variam entre a zoação e o medo de debater coisas espinhosas. Por exemplo, que o bolsonarismo não acabou. Parece que tem uma parte que se apaixonou em viver contra as cordas ao invés de entender o que acontece e se antecipar ao movimento da extrema-direita.


  1. Mas, no geral, a esquerda é tipo uma anomalia usando redes sociais. Durante o governo Bolsonaro, surgiram uma dezena de influenciadores. Todos muito inteligentes, mas inteligência acadêmica não é o suficiente, e verdade seja dita: se não fossem André Janones e Felipe Neto, havia um risco de tomar uma lavada do Bolsonaro com sua máquina de difamação.


  1. Existe uma esquerda deslumbrada pelo seu intelectualismo, mas tem um alcance e impacto bem medíocre (no sentido “ditar o debate”). Temos que reconhecer que Janones aguentou uma chuva de haters porque ele não era “esquerda puro-sangue”. Sorte que Janones já parece estar acostumado com essas tranqueiras e o potencial de mobilização ficou mais que claro durante esse processo.  André Janones e Felipe Neto demonstraram que a meia dúzia de pangarés que orquestram as redes bolsonaristas perdem a linha com o mínimo de estratégia de redes.


  1. O bolsonarismo não surgiu da noite pro dia e vai seguir (como segue o trumpismo nos submundos de fórum de extrema-direita e redes sociais). Já passou da hora de assumir posições claras e simples na comunicação, os neofascistas tiram vantagem comunicando-se desta forma, não citando milhões de leis ou referências bibliográficas. Se a esquerda não quer voltar para as cordas, deve agir agora e ser menos estúpida com quem realmente sabe como fazer.