Tenho saudades das noites escuras, do breu, da ausência da luz. Saudade da escuridão noturna,antes que ela fosse colonizada por mil brilhos artificiais.
Me lembro das noites quando precisávamos de lanternas, ou velas para iluminar,me recordo vivamente deste ausência de brilhos postiços,de milhões de postes,de uma imensa infra estrutura que expulsou a noite, achando nós que a escuridão era povoada por mil terrores.
Fosse o medo ou a vontade de produzir,os humanos,trouxemos junto com o mito do progresso,o mito da luz,da iluminação do mundo,de todo o mundo. Em todos os cantos fomos enfiando luminárias,expulsando a luz natural,a do dia inclusive.
Sem nos apercebermos,para cada lâmpada instalada,em cada parede ou espaço iluminado por nossa civilização,parte de nós foi indo embora,sobretudo aquilo que nos fazia natureza,ainda e quando não estávamos apartados do reino da vidas.
Expulsamos a noite escura, o breu e a imensidão do céu noturno,perdendo seus mistérios e possibilidades sensoriais,eliminando saberes táteis,até mesmo os odores que só a noite tem.
Decretado o confinamento da noite,eliminada da vida,tudo que fora para nós se extinguiu,pois a noite já não era nossa amiga,companheira de viagens desde milhares de anos,confidente de sonhos,inspiração para canções ou para a poesia,para trovas ou para os tambores.Abrindo mão da noite,fizemos entrar no reino da escuridão, terrores que nós mesmos criamos.
A noite,expulsa por diodos,leds,fachos e brilhos multiplicados aos bilhões, é tão somente uma história que se perdeu,em meio a um mar de estrelas que perdemos nesse tempo de "progresso".
Quem sabe um dia,no crepúsculo deste mundo aqui,poderemos outra vez andar confiantes no meio de mil e uma noites,portando apenas a luz das estrelas.
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